ONDE ESTÁ A ESTÂNCIA JATOBÁ

 

Quase em cima do trópico de capricórnio (este projeto foi escrito no ponto de latitude 22º 39.615' Sul; 47º 2.323' Oeste; elevação de 600 metros). A terra é um dos fragmentos remanescentes da quase extinta Floresta Atlântica Brasileira. Diz-se que apenas 5% desse ecosistema original (considerado o mais rico do planeta, em termos de espécies endêmicas) ainda está intacto.

 

Bordejando a propriedade ao norte fica uma cooperativa de empresários holandeses imigrantes. A maioria do que eram antes pequenas fazendas familiares, diversificadas, converteu-se em estufas de alta tecnologia. Jatos jumbos refrigerados aguardam sua carga floral nas pistas do aeroporto internacional vizinho. Antes que o comércio abra, será feita uma entrega no Mercado de Flores de Amsterdã. Poucas horas depois, alguns privilegiados irão cheirar flores tropicais nas suas mesas, em restaurantes parisienses.

O retorno econômico e a prospectiva futura para esse lucrativo mercado internacional são excelentes. Outras empreitadas comerciais em torno dessa indústria também prosperaram. Assim a comunidade foi beneficiada com melhores escolas, serviços sociais mais adequados e de modo geral condições de vida melhores.
Uma história similar também aconteceu na região ao sul. A instalação de indústrias leves está fortalecendo a economia local. Computadores, telefones celulares, indústrias farmacêuticas e de fibras óticas estão se espalhando ao longo da rodovia interestadual no estilo do Vale do Silício. À leste e à oeste da propriedade, o desejo da classe abonada por condomínios fechados com mansões para o lazer de fim-de-semana aliado ao da classe média por habitações de baixo custo provocaram uma explosão respeitável na indústria da construção. À volta toda, o progresso econômico é forte e parece garantido.

Como muitas vezes acontece, uma conquista positiva tem seu lado negativo. Neste caso, o progresso econômico foi conseguido à custa da natureza. O prognóstico para problemas regionais do meio ambiente não são encorajadoras. Estima-se que uns 200 hectares tenham sido cobertos para o cultivo lucrativo de plantas em vasos e flores decorativas. Assim uma quantidade significativa de água das chuvas que antes era absorvida pelo solo agora corre pelos telhados das estufas tornando-se um agente de erosão e um veículo de contaminação. Da mesma forma, fábricas, lares, e estradas asfaltadas também protegem o solo da água e da luz do sol. Irrigações abundantes e demandas urbanas também contribuem para escassez de água no subsolo e esgotamento do aquífero. E para piorar as coisas, os principais rios da bacia estão poluídos com resíduos industriais, venenos agrícolas e esgoto humano sem tratamento.

Em geral, áreas de matas estão sendo cortadas cada vez mais por rodovias, ruas e linhas elétricas de alta tensão para satisfazer os valores da cidade. No Amazonas foi registrado que 75% do desmatamento ocorre numa ceifada de 50 km ao longo das rodovias principais. Desmatamentos para se fazer construções, continuam. Muitas matas ciliares foram destruídas deixando os cursos d'água inadequadamente protegidos. Todo vestígio de vegetação é raspado dos acostamentos nas estradas rurais. Embora o mundo tenha ficado mais seguro para orquídeas, aparelhos eletrônicos e caminhões de entrega, está progressivamente menos seguro para si próprio. Uma questão abordada por este projeto é, "Como será possível assegurar necessidades econômicas sensatas e, ao mesmo tempo, preservar os recursos naturais vitais?"

Muitos problemas ecológicos, tais como, o manejo do lixo doméstico e tratamento do esgoto requerem um esforço público para resolvê-los. No entanto, há muito que pode ser feito pelos indivíduos. Além de colocar a própria casa em ordem, - conservando água e eletricidade, reciclando resíduos domésticos e mantendo uma cobertura verde adequada - existe a oportunidade excelente de se compreender e, talvez aperfeiçoar, a dinâmica das mudanças sociais e culturais que estão ligadas às questões ecológicas. Tal aprendizado, é fácil imaginar, poderá ser transferido para outras áreas onde ocorrerão problemas similares no futuro.

Um exemplo: O êxodo das populações vindas das áreas rurais e aumentando as megalópolis parece ter diminuido ou mesmo parado. Os empregos na agricultura continuam a cair, mas atividades relacionadas estão aumentando a oferta de colocações. Assim, as pessoas estão se mantendo no campo. E, também as grandes cidades já estão começando a esvaziar suas populações desiludidas de volta às áreas rurais. Depauperados de suas terras férteis e práticas agrícolas, submetidas às exigências de recém chegados, condicionados a serem insensíveis ao seu entorno, estas áreas podem não ser capazes de sustentar uma qualidade de vida muito melhor que os anteriores labirintos da cidade. Pôr outro lado, se soubermos melhor como nos adaptar a essas migrações, essas transições poderão se realizar sem sobrecarregar tanto o meio ambiente nem tampouco o estilo de vida e os valores rurais.