PERCEPÇÃO

PERCEPÇÃO >> EDUCAÇÃO

A essência da educação é inculcar dever e reverência.
O dever surge do nosso potencial para
controlar o curso dos eventos.
O fundamento da reverência é a percepção,
de que o presente abarca em si mesmo
a soma da existência, para trás e para frente,
a amplitude do tempo, que é a eternidade.

O filósofo e matemático inglês Alfred North Whitehead

 

Um objetivo educativo do projeto é facilitar um modo de pensar amplo, que percebe padrões, e percebe o global, exercitando a imaginação para viver como uma pessoa completa. Aldo Leopold acreditava que promover a percepção é parte da educação ambiental, a única parte verdadeiramente criativa do "ecoturismo", na sua opinião. "A característica importante da percepção é que ela não acarreta nenhuma diluição ou consumo de recursos - apenas aumenta a informação e o conhecimento, alargando a consciência".
A percepção, ele acrescenta, não se compra com dólares ou diplomas. O filósofo e matemático britânico Alfred North Whitehead foi além, afirmando que a informação de segunda-mão do mundo instruído é o segredo de sua mediocridade. A intenção deste projeto é que a percepção se apoie na experiência direta de primeira-mão, seja intensificada pela auto-reflexão e complementada pela pesquisa. Ela será ampliada pelos diferentes ângulos apresentados pela expressão artística para revelar um pouco mais o escondido.
Em suma, como observou J.W. von Goethe, "O ato de conhecer o mundo natural não é meramente uma atividade subjetiva da mente. De um modo bem real, é um desenvolvimento evolucionário do próprio fenômeno, que se torna mais amplo, mais refinado".

 

 

O lugar é político

O conhecimento de um lugar -
onde você está e de onde você veio -
está interligado com o conhecimento de quem você é.
Em outra palavras, o panorama natural molda o panorama mental.

O professor de estudos ambientais americano, David Orr

 

Na Grécia, antes do cristianismo, o lugar estava intimamente ligado à essência da pessoa. De fato, ousia, palavra para "propriedade de terra", veio a significar "ser". As pessoas são moldadas pelo seu nicho. O lugar é político. Modela as perspectivas, os programas. E qual é o modelo que está ocorrendo em relação ao ambiente?

Em São Paulo, as paredes das universidades estão rabiscadas com grafites. Os prédios e mesmo os artefatos estão desfigurados. As infraestruturas estão desabando por mero desleixo. Jardins morrendo ou tomados pelo mato. Eles servem de depósito para copos plásticos de café, latas de refrigerantes vazias, papéis de bala, pontas de cigarros e listas de leituras dos professores. Torneiras e banheiros estão vazando. Equipamentos inoperantes. A falta de um curriculum com sólidos estudos ambientais que comece com o próprio ecosistema da universidade confirma a hipótese de que, o que está sendo ensinado é a indiferença quanto a circum-vizinhança.

A lição não é meramente que o ambiente é irrelevante. A mensagem implica através do exemplo, que os arredores devem ser desrespeitados. O que isso ensina? Primeiramente, que os sentimentos não são importantes. Deve-se ignorar os sentidos. Não ver o lixo, não ouvir o barulho, não cheirar os produtos da poluição. Não cultivar a sensibilidade estética. A abstração e as idéias de segunda-mão lançadas e ruminadas nos seminários tomaram o lugar do exercício do senso comum. Não é de se surpreender que muitas das pessoas responsáveis pelos piores danos ao ambiente tenham sido educados em tais arredores - universitários formados em economia, administração, advocacia, engenharia, arquitetura, tecnocratas de todos os tipos. Sem um tal desprezo por seu próprio ambiente será que poderiam ter causado programas "progressivos" tão desditosos, condomínios devastadores, loteamentos sem gosto, shopping centers exagerados, fábricas poluidoras, rodovias mal projetadas, esquemas energéticos insustentáveis?

O que a instituição educacional está ensinando, por demonstração, sobre justiça social e sistemas de alimentação sustentáveis? Frequentemente, os empregados ganham pouco, são pouco treinados, mal supervisionados e carrancudos. Mal humor e insensibilidade é a regra de comportamento da recepção aos executivos, aos faxineiros. A economia local não é respeitada. Alimentos produzidos por perto são preteridos por outros provenientes de redes distantes de distribuição e agronegócios. A universidade é mais um complexo industrial lucrativo do que um templo do saber, modelador do caráter.

No projeto que está sendo considerado aqui, ecologia não é um "curso". É parte dos fundamentos de um viver inteligente em um mundo moderno. Assim dizendo, os objetivos educativos do projeto não são diferentes daqueles lançados pelo Ministro Brasileiro do Meio Ambiente que encoraja "experiências educacionais que facilitem e integrem a percepção do ambiente, tornando possível uma ação mais racional e a capacidade de responder às necessidades sociais".

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Pensamento é Ação

O pensamento é um ato social, com consequências morais. Os seres humanos estão causando a destruição do ambiente. Seres humanos poderão também eliminar e reparar seus estragos. Parte do sistema ecológico é a percepção daqueles envolvidos nessa empreitada. Não é apenas a esfera biológica que pode ser estudada. A psicologia das mudanças de percepção a esse respeito também pode ser muito interessante. Assim como, sem dúvida, é o fenômeno conhecido como "difusão social": pessoas fazendo o que outros à sua volta estão fazendo. (A maioria das campanhas de informação parecem ter efeitos limitados na mudança de comportamento em relação ao ambiente. O que é mais importante é acompanhar seus vizinhos. Se um usa energia solar, o outro tenderá a usá-la também). No projeto proposto da Estância Jatobá, experimentamos primeiramente em nós mesmos, e se for bem sucedido, sugerimos aos outros.

Outro objetivo é a promoção do bem-estar humano em relação à natureza e à empreitadas cooperativas. Também existem tópicos para estudo em economia. Fontes de energia eficientes e não poluentes, água limpa, reciclagem dos resíduos, fazem muito sentido do ponto de vista fiscal, especialmente visto que os lucros podem ser consideráveis. Não somente como poupança mas como emprego. Por exemplo, o World Watch Institute lançou um relatório prevendo aumentos dramáticos na oferta de empregos no campo da energia solar. Nos próximos 20 anos, os empregos deverão alcançar 1.7 milhões.

Investimentos em ecosistemas podem ter vantagens direta para as comunidades. Divulgou-se que o Estado de Nova York investiu um bilhão de dolares na conservação da floresta de Catskills. As fontes que fornecem água para os centros populacionais do estado se originam nessas montanhas. Por garantirem a proteção florestal das nascentes o estado espera economizar seis bilhões de dólares em facilidades para tratamento de água rio abaixo.
A dinâmica dos grupos humanos, igualdade social, ética e moralidade são outros assuntos que devem ser confrontados. Por exemplo, a perda da diversidade cultural, dos valores agrários e da vida rural são preocupação de muitos. Essa preocupação pode ser rastreada até uma cena de teatro no século quinto A.C.. Aristófanes criou esta fala para um fazendeiro confinado em Atenas, "Amando a paz, detestando a cidade, suspirando pela minha vila no campo que nunca grita 'compre carvão' ou 'compre vinagre' ou 'compre azeite'; ela desconhece completamente o 'compre', pelo contrário, produz tudo por si mesma.".

De fato, a preservação de alguns valores rurais pode ser a parte mais importante no desenvolvimento de um sistema de produção de alimento sustentável. Existe uma chance do petróleo se extinguir. Combustíveis e fertilizantes alternativos terão que ser encontrados. Também, solo fértil e água para irrigação estão se exaurindo. Isso irá possivelmente, provocar uma alta dramática nos preços dos alimentos, visto que os preços foram mantidos baixo pela mencionada exploração dos recursos naturais. No entanto, é improvável que a agricultura empresarial não seja capaz de alimentar o mundo, de um jeito ou de outro. Para o agricultor que mora e trabalha sua própria terra, viver e ganhar a vida não são separáveis. A terra produz alimento e produz um tipo de cidadão diferente. A perda desse potencial é muito mais difícil de reparar

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Demonstração

Aldo Leopold achava que a melhor maneira das pessoas saberem o que é uma floresta digna(com seu carácter selvagem e seu mistério inerentes), é lhes mostrar uma. Assim, parte do aprendizado será ver, não um parque temático bem manicurado mas um ecosistema digno. Deve-se aqui considerar o papel dos "mirantes". Estes são pontos vantajosos, naturalmente atrativos, "paradas para descanso", onde a natureza pode ser observada sem nenhuma interferência com ela. Tais experiências contribuem tanto para a educação quanto para o bem estar humano. Trilhas discretas e limitadas serão mantidas com esse propósito. Ao mesmo tempo em que favorecem esse contato contemplativo com o mundo natural, que é ocasião de deleite, servem à pesquisa científica, proporcionando oportunidade aos visitantes de identificarem plantas e animais nativos da região. Espécies botânicas poderiam ser etiquetadas e o crescimento observado. E, observações de animais acrescentados a um registro geral.

Não apenas uma floresta digna poderá ser vista. Habitações dignas e outras estruturas também serão aparentes. Sistemas hidráulicos e elétricos serão transparentes para que se possa observar uma casa habitada sem desperdício.

Vídeos e outras publicações estenderão essas observações. Fotografias, sementes preservadas, folhas e outros itens poderão ser também formas de "registro" do ecosistema em um museu/biblioteca. Objetos de arte, seguramente, serão excelentes formas de registros e de inspiração.

Três casas boas foram separadas para serem reformadas para uso como laboratórios, escritórios ou dormitórios.

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Pesquisa Científica

Além de aumentar a "área verde", preservar a biodiversidade, e de um modo geral fortalecer o ecosistema, pode-se, tornar particularmente interessante à pesquisa, o processo de reflorestamento. Especialmente, visto que a recuperação de florestas nativas a partir de pastagens visa compensar as emissões de carbono que é uma preocupação de todo o hemisfério. Como facilitar a dispersão de sementes e sobrepujar a competição com capins agressivos dos pastos é uma outra questão a ser enfocada.

O aprendizado é tanto um objetivo quanto um efeito colateral vital do projeto. Devemos conhecer mais sobre nosso ecosistema (por exemplo, do que ele consiste) para realizar seu potencial. Monitorar as mudanças será importante. Programas de pesquisa para recuperação da floresta poderá envolver uma avaliação dos bancos de sementes nas florestas e nas pastagens. Pode-se estudar animais apreendendo-os para identificação, depois soltá-los e fazer um acompanhamento posterior. Involve coletar "chuva de sementes" para localizar padrões de dispersão bem como a biodiversidade. De um modo ou de outro a biologia básica do ecosistema deverá ser estudada. Espécies botânicas das madeiras das matas deverão ser identificadas para responder às seguintes questões: Quais espécies nativas estão presentes? Quais estão faltando?

Na transformação dos pastos em florestas, o papel dos bovinos deve ser cuidadosamente estudado. Ainda que pareça estranho, o gado pode ajudar de diversas maneiras. Sabe-se que animais de pastoreio dentro das florestas pisoteiam a delicada vegetação rasteira, compactam o solo, provocam erosão e desfolham as mudinhas vulneráveis. Entretanto, foi observado aqui, esse mesmo comportamento tem o efeito de rejuvenescer nascentes inativas. Uma nascente foi reavivada quando o gado pastando, afundava seus cascos na terra úmida enquanto buscava água. De repente, a água começou a jorrar das veias do solo perturbado. Nessa altura, fez-se uma cerca para impedir o gado de fazer lama, e assim, a fonte tornou-se ativa novamente. Da mesma forma, sob condições controladas, o gado pode ajudar a refrear a disseminação de gramíneas agressivas invasoras. Uma área a ser explorada é a possibilidade de que o pastoreio na sombra do lado sul da floresta pode enfraquecer as gramas invasoras até o ponto em que a dispersão natural de sementes venha a se tornar mais eficiente, já que os ventos predominantes vêm do norte. Talvez fazendo-se, criteriosamente, a introdução e a remoção dos animais, no momento exato, se poderá facilitar o reflorestamento.

A recuperação de pequenas represas e brejos aliada a ausência de agrotóxicos já facilitou o aumento das espécies de pássaros presentes nesta terra. Uma análise recente, feita no inverno, constatou a presença de 75 espécies de aves. É visível o aumento das populações de aves e da vida aquática. Rastros de movimentação de animais mamíferos também aumentaram.

Além da atenção às técnicas de restauração, também se estudará a produção sustentável de alimentos, de uma forma sistêmica e sistemática. Isto é, criteriosamente e sempre como parte integrante da minibacia. Consorciamento de plantas, germinação de sementes, plantio, nutrição, controle natural das pragas são alguns dos tópicos a serem investigados.

Além disso, há muito o que aprender sobre a infraestrutura e muito conhecimento transferível que poderia advir de experimentos bem sucedidos. Conversão das construções e veículos para energia solar, projetos de habitação e laboratório eficientes quanto à energia, eliminação dos resíduos (inclusive redução da poluição, reciclagem de alumínio, vidro, papel, água, material orgânico), troca termodinâmica eficiente poderão ser registradas e analisadas.

Um tema vital para a pesquisa será o estudo da interação global, biológica, social e econômica da bacia com o ecosistema circunvizinho, e como ela é afetada por ele e de como poderá atuar como referência para o "progresso".

Em suma, o que esperamos fazer é usar esta propriedade como uma espécie de "laboratório" para uma "universidade de conhecimento prático" (informal porém, sério) em como viver bem num lugar.

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Inscrição

Há um programa para mapear a florística (plantas, sementes e folhas) com fotos, descrições, e desenhos; a fauna, com fotos, descrições, esqueletos, pistas, assobios; o solo matrix com amostras e catálogos sobre consistência, umidade e composição química; as áreas cultivadas, fontes de água e córregos; bem como a história da propriedade já está em andamento.

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Disseminação do conhecimento

Percepções diferentes e conhecimentos adquiridos através de experiências aqui podem ser disseminados através de artigos científicos, livros, arte, artesanato e outros meios audi-visuais.

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