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PUBLICAÇÕES >> PERMACULTURA

Dr. John Keith Wood

Estância Jatobá

 

A palavra "permacultura" é formada da união de duas palavras permanente e agricultura. Foi inventada pelo biólogo e geólogo australiano, Bill Mollison, que juntamente com David Holmgren, a aplicaram ao estudo que estavam desenvolvendo nos anos 70, "uma ciência interdisciplinar da terra". Mollison define a atividade chamada permacultura como, "Planejamento e manutenção conscientes de sistemas agrícolas produtivos que tenham diversidade, estabilidade e a capacidade de regeneração dos ecosistemas naturais". Permacultura não se limita ao cultivo de alimentos. Engloba, "uma integração harmoniosa do ambiente e das pessoas que produzem alimento, energia, habitação e outras necessidades materiais e não materiais, de um modo sustentável".

O QUE É "SUSTENTÁVEL"?

O agro-ecologista americano Stephen Glliessman deu uma definição prática: em parte, significa que a produção de alimentos deve ter "efeitos negativos mínimos no ambiente e não liberar substâncias tóxicas ou danosas na atmosfera, na agua superfícial ou no lençol freático; deve preservar e restaurar a fertilidade, prevenir erosão e manter a saúde ecológica do solo". Sustentável também implica o uso da "água de um modo que permita aos aquíferos se recarregarem e às necessidades de água do ambiente serem satisfeitas". Além dos cuidados com o solo, implica manter uma diversidade de culturas, usando controles naturais para as pestes, facilitando a economia local, promovendo boas relações com os vizinhos, em geral, preservando a saúde da terra e dos que nela vivem.

O QUE É NOVO?

Quando a permacultura é dividida em suas respectivas partes, não há nada de novo a descobrir. Acentua o que todo mundo sabe que deveria ser feito. Ou seja, manter intactos os ecosistemas tais como florestas e alagados, reflorestar áreas degradadas - especialmente as ciliares, proteger e recuperar as nascentes de água doce, conservar energia elétrica, reciclar resíduos orgânicos e inorgânicos.

O que é diferente sobre a permacultura é o inter-relacionamento dessas atividades que devem ser consideradas sistemicamente, dentro de uma visão holística. O ponto de vista predominante atualmente, que gerou o consumismo e a degradação do ambiente, explora a natureza pelos ganhos à curto prazo, baseia-se na produção e recompensa o empreendimento. Essa perspectiva predomina tanto no pensamento urbano quanto na agricultura convencional. Por outro lado, a perspectiva onde a permacultura se apoia é muito diferente. Preserva a natureza, baseia-se em criar potencial, e recompensa a paciência.

O objetivo tácito da permacultura é tornar a vida melhor em um determinado lugar. Cooperando com (em vez de contra) a natureza, enfatizando a observação cuidadosa (em vez de ação impensada), percebendo o sistema de produção de alimento e a vida saudável como multifuncional (em vez de perseguir uma única obsessão - como lucrar a qualquer preço social e ambiental), permitindo aos sistemas biológico e social encontrarem sua própria evolução (em vez de forçá-las a obedecerem teorias).

QUAL SERIA A APARÊNCIA DE UM LUGAR DE PERMACULTURA?

Em termos práticos, as prioridades seriam;

1. Estabilizar e cuidar da terra.
2. Prover aos habitantes e às necessidades regionais.
3. Somente então, produzir excedente para ser trocado, ou vendido.

A habitação deveria ser desenhada e posicionada de modo a tirar proveito da posição do sol e da direção dos ventos. Assim, a casa deveria ser quente no inverno, fresca no verão e ventilada conforme a vontade. A energia deveria ser conservada. Painéis solares ou cataventos deveriam produzir energia. As águas das chuvas que escorrem dos telhados deveriam ser captadas e armazenadas em cisternas. Sempre que possível, a água deveria ser conduzida por gravidade, para dentro e fora das habitações. Dentro seria reciclada, a "água cinza" (de banhos e pias) seria re-usada nas descargas dos banheiros. O esgoto seria tratado em fossas septicas, para regar o jardim e outros usos. Os veículos deveriam ser movidos por combustíveis de óleos vegetais em vez de petróleo.

Tanto quanto possível as hortas, pomares e plantações deveriam copiar a floresta (o ecosistema ideal). A água da chuva seria quebrada pelas folhagens das árvores, suavemente absorvida pelo solo através da camada em decomposição, para ir penetrando até o lençol de água e voltar a rejuvenescer as nascentes. Seguindo o ciclo natural ela seria levada através da transpiração e da evaporação, para se condensar novamente na atmosfera e voltar a cair. Se implementariam multi-culturas e consorciamentos. Isto quer dizer, plantar misturado espécies diferentes - em uma relação simbiótica. Essas parcerias preservam a diversidade e, se forem apropriadamente combinadas, podem ter uma colheita melhor do que uma área equivalente de monoculturas separadas. Por exemplo, consorciamentos de milho, feijão e abóbora têm sido feitos nas Américas desde antes da invasão européia. O feijão, como outras leguminosas, apresenta em suas raizes nódulos (micorriza) onde vivem bactérias que promovem a fixação do nitrogênio do ar, fertilizando o solo. A abóbora ajuda a controlar o mato. A eficiência fotosintética também aumenta. O milho, que precisa de mais luz do sol, cresce mais alto e sombreia a abóbora que necessita menos.

Combinar plantas também favorece o controle dos insetos, visto que algumas delas os repelem, outras os atraem. Outros insetos, como abelhas e formigas cumprem funções importantes se não forem atrapalhadas. As abelhas polinizam as plantas. As formigas ajudam a quebrar solos compactados. Animais domésticos se alimentam das pastagens naturais e as fertilizam diretamente. Não há desperdício. Não há fórmulas para substituir o envolvimento pessoal, a experimentação através de tentativas e erros. A permacultura requer um contato íntimo com o lugar e o bioma. A observação é sua ferramenta mais importante. Como sugeriu o conservacionista americano Aldo Leopold, é necessário "perceber a capacidade de auto regulação da terra" e seguí-la.

Visto ser a permacultura, de fato, uma tentativa de se viver em harmonia em seu próprio lugar, é importante valorizar a economia local. Isto é, a pessoa deveria comprar e vender os produtos necessários preferindo os que tenham sido colhidos e manufaturados perto de sua casa. Isso conserva energia e preserva os valores locais.

 

 

BIBLIOGRAFIA

Mais detalhes:

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Estudos avançados:

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