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PUBLICAÇÕES >> OS SETE MITOS FATAIS DA AGRICULTURA INDUSTRIAL*

Dr. John Keith Wood

Estância Jatobá

 

Será que eles jamais viajaram através dos
campos e viram o destino
daqueles que os antecederam? ... e para
eles também, seus apóstolos vieram
com sinais indubitáveis, que foram
rejeitados para sua própria destruição.
Allah não os fez errado, eles mesmos o
fizeram.

Alcorão

Mito 1. A Agricultura Industrial vai alimentar o mundo.

Fatos:

A fome é um grave problema que aflige o mundo todo. Oitocentos milhões de pessoas passam fome todos os dias.
A falta de comida no mundo não é a causa dessa tragédia. De fato, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura fala que a abundância, e não a escassez, caracteriza o suprimento de alimentos do mundo. A cada dia, 1,2 kg de grãos, feijões e nozes; 450 gramas de frutas e legumes; e um meio kilo de carne, leite e ovos são produzidos para cada pessoa deste planeta. Além do mais, a produção de alimentos manteve-se equilibrada com o aumento da população.

A fome é a causa, não por falta de alimento mas devido à pobreza e à condição de não terem terra.
A agricultura industrializada contribui para a pobreza. As fazendas industriais usam enormes nacos de terra. Um estudo de 200 comunidades feito pelo U.S. Office of Tecnology Assessment notou que ao mesmo tempo em que as fazendas aumentavam também a pobreza crescia. Os agricultores de subsistência são forçados para fora das suas terras e lhes é negado acesso à cadeia de alimentos das cidades industrializadas. Aí, eles formam uma classe urbana de pobres, competindo por empregos mal pagos. Eles se tornam dependentes de alimentação. Isto é, se eles querem comer devem comprar o alimento. Sem dinheiro suficiente, 70 milhões de brasileiros estão destinados à desnutrição e à inanição.

Aqueles ainda capazes de cultivar não estão muito melhores. Devem pagar mais para cultivar industrialmente. Rendimentos maiores em culturas específicas para mercado e competição globalizada derrubam os preços pagos por seus produtos. Os intermediários ficam com parcelas cada vez maiores, mantendo preços altos para os consumidores.

As comunidades rurais também estão ficando dependentes de alimentos. Eles não cultivam mais os gêneros de primeira necessidade. A agricultura corporativista, à procura de lucros altos prefere: flores, cana de açúcar, carne, camarão, algodão, café e soja para exportar para os países ricos. A África, onde a fome é epidêmica, produziu uma safra recorde de algodão e cana de açúcar.

Conclusão:

Contrariamente ao mito, a luta tecnológica para produzir maiores rendimentos, na verdade, está aumentando a crise da fome ao mesmo tempo em que está causando devastação social e ambiental.
A fome pode ser resolvida por um sistema de agricultura sustentável que promova independência em relação à alimentação: pessoas vivendo próximas a terra, cultivando alimentos saudáveis para sua própria comunidade, usando técnicas que preservem a água limpa e a biodiversidade.


Mito 2. O alimento industrializado é seguro, saudável e nutritivo.

Fatos:

De acordo com a American Food and Drug Administration (FDA), 53 pesticidas classificados como carcinogênicos são aplicados em doses generosas às principais culturas americanas de alimentos. A Environmental Protection Agency (EPA), identificou mais de 165 pesticidas como potencialmente carcinogênicos. Em 1998, a FDA encontrou resíduos de pesticidas em mais do que 35% dos alimentos testados. No Brasil, a Universidade de Brasília, em uma pesquisa recente descobriu que quatro dos alimentos mais consumidos, excediam os limites de toxidade tanto brasileiros quanto internacionais. Arroz, feijão, frutas cítricas e tomates mostraram traços de 23 pesticidas acima do que são consideradas medidas seguras. Desses venenos apenas seis eram legalmente sancionados para uso em agricultura.

O American Center for Disease Control, (ACDC), relatou casos de doenças por salmonela e patógenos de E. coli em número dez vezes maior que há duas décadas atrás. Nenhum desses patógenos era encontrado na carne antes de 1970, quando as "fábricas de carne" se tornaram o modo dominante de produção de carne.

Conclusão:

Nutrição talvez, mas o alimento cultivado industrialmente não tem saúde e segurança.

Mito 3. O alimento industrial é barato.

Fatos:

Os custos sociais e ambientais não são incluídos nos valores tributáveis do alimento industrial. As despesas médicas, por exemplo, não estão computadas no preço do alimento. Todo ano 80 milhões de americanos sofrem de males advindos da alimentação, além de diabetes, doenças do coração há outras que acredita-se sejam causadas pela dieta.

Também, a agricultura industrial aumenta os tributos dos contribuintes, com custos adicionais para limpezas dos depósitos de produtos tóxicos, a abertura e manutenção de aterros para o lixo doméstico e planos de seguro-saúde.

Além disso, nos Estados Unidos por exemplo, os alimentos de um prato de comida médio, viajaram mais de 2000 km, do campo até a mesa. O custo da construção das rodovias, a manutenção, a poluição gerada e o efeito de aquecimento global estão escondidos - pagos em forma de taxas e o sacrifício de qualidade da vida no futuro mas não calculados no custo do alimento.

Dinheiro de impostos também é perdido para os incentivos dirigidos às fazendas industriais. Por esse, assim chamado "alimento barato", os contribuintes americanos pagam 659 milhões de dólares por ano, para que os produtos industriais possam ser promovidos. Para fazer o marketing da Chicken McNuggets em Singapura, 1.6 milhões foram doados. Para vender a imagem do bonequinho do fermento Pillsbury para países estrangeiros os contribuintes desembolsaram mais de 11 milhões de dólares.

Conclusão:

Se os custos reais fossem acrescentados ao preço do super mercado, nem mesmo os mais ricos teriam meios de comprar alimentos.
O alimento orgânico reduz os riscos para a saúde. Também reduz os custos sociais. Agricultura em pequena escala reconstitui as comunidades rurais, preserva os valores rurais, cria mais empregos no campo e aumenta a justiça social.

Mito 4. A Agricultura industrial é eficiente.

Fatos:

Grandes fazendas alardeiam um grande "rendimento". Isso significa que produzem mais toneladas de, digamos milho, por hectare do que as pequenas fazendas.

Por outro lado, as pequenas fazendas são mais diversificadas. Não produzem tanto milho, mais certamente produzirão outras coisas, como cereais, frutas, legumes. Provavelmente estes têm animais e reciclam seus resíduos para fertilizar as culturas.

As grandes fazendas usam bastante tecnologia; muita química, grande quantidade de máquinas para tração e processamento, computadores e engenharia genética.

O U.S. National Research Counsil averiguou a eficiência dos sistemas industriais de produção de alimentos. O relatório detonou o mito "quanto maior melhor". "Sistemas alternativos bem manejados quase sempre usam menos pesticidas sintéticos, menos fertilizantes químicos e antibióticos por unidade de produção que as fazendas convencionais. O uso reduzido desses ingredientes diminui os custos de produção e baixa a possibilidade de efeitos nocivos para a saúde e o ambiente sem diminuir e até mesmo em alguns casos aumentando - os resultados por hectare e a produtividade do sistema de manejo do rebanho".

O censo agrícola americano de 1992 divulgou que fazendas de 10.8 hectares ou menos eram mais de 10 vezes mais produtivas (rendimento efetivo em dólar por hectare) do que fazendas de 240 ou mais hectares. Sítios de 1.6 hectares ou menos podem ser 100 vezes mais produtivos.

Conclusão:

Corporações transnacionais usam um sistema de produção que elimina os animais, destrói as comunidades, envenena a terra, solapa a biodiversidade e não eliminou a fome (como eles pretendiam).
Eles dizem que esses danos colaterais são o preço que devemos pagar pela eficiência na guerra contra a natureza.
A verdadeira decepção é que essa agricultura em larga escala não é nem mesmo eficiente. As fazendas orgânicas, em escala familiar, criam empregos rurais, fortificam as comunidades, protegem o ambiente, aumentam a biodiversidade - e são eficientes.

Mito 5. O alimento industrial oferece mais opções.

Fatos:

Dêem uma olhada nas bolachas e outros itens do café da manhã, em um supermercado. Existem mais de 50 marcas diferentes. Parece uma enorme seleção.

Existe escolha de marcas, mas não há escolha de alimentos. Tente encontrar qualquer marca que use primordialmente outros grãos que não milho, arroz, trigo ou aveia. Procure uma caixa sem açúcar e sal como principais ingredientes. A escolha de alimento é uma ilusão.

Existem supostamente, 75.000 plantas comestíveis. Umas 3.000 já foram pesquisadas. 150 foram cultivadas em larga escala. De acordo com a FAO 95% das calorias ingeridas pelos seres humanos advém de apenas 30 variedades de plantas. A variedade oferecida nas prateleiras dos supermercados nada mais é do que uma re-embalagem de produtos similares.

As escolhas estão se tornando ainda menores na medida em que a diversidade genética está diminuindo. A Rural Advancement Foundation (RAFI) comparou o estoque de sementes disponíveis em 1903 no inventário da U.S. National Seed Storage Laboratory(NSSL) . A perda de diversidade genética era de 93% para alface, 96% para milho doce, 91% para milho de campo, 95% para tomate e 98% para aspargo. Nos supermercados 90% dos ovos vem de galinhas brancas legornes.

E algo que talvez você não saiba, em 13 estados americanos existem leis chamadas "food disparagement". Você pode ir para a cadeia por denunciar sistemas industriais de alimentação que tenham efeitos nocivos.

Conclusão:

A maior variedade de alimentos produzida pelos cultivadores orgânicos e vendida em "mercados de produtores", através de uma agricultura apoiada na comunidade, pode proporcionar aos consumidores o conhecimento sobre a origem e qualidade dos seus alimentos e oferecer uma oportunidade real de produtos sadios em sua alimentação.

Mito 6. A agricultura industrial é benéfica ao ambiente e à vida silvestre.

Fatos:

A verdade é que a agricultura industrial talvez seja a maior ameaça ao ambiente da terra.
A aração de cerca a cerca põe em perigo a camada já diminuta de solo fértil. Os estados Unidos perderam metade do seu solo desde 1960. E ele continua a ser lavado em um ritmo 17 vezes mais rápido do que a natureza pode criar um novo solo.
O enorme uso de fertilizantes químicos e herbicidas mata a vida do solo e envenena a água.
Pelo menos 50 estudos científicos nos Estados Unidos e Canadá documentam os efeitos nocivos dos pesticidas nos pássaros, animais mamíferos e anfíbios. A vida silvestre está dizimada. As comunidades de animais e plantas foram eliminadas. No século passado 75% da diversidade genética do país desapareceu.

Conclusão:

Este mito é a mais ridícula das grandes mentiras promovidas pela agricultura industrial. Realmente não merece outras respostas.

Devemos apenas dizer que a agricultura orgânica sustentável minimiza o impacto ambiental do cultivo, nas plantas e animais, bem como no ar, na água e no solo. É mais "amiga" das comunidades humanas e dos trabalhadores rurais.

Mito 7. A biotecnologia resolverá os problemas da agricultura industrial.

Fatos:

A tecnologia de pesticidas nos trouxe epidemias de câncer, toxidade nas águas e no ar, e destruição da biodiversidade - mas não entre as pestes que pretendia erradicar. Em 1962 quando Rachel Carson publicou Silent Spring, havia 137 espécies de insetos que se sabia serem resistentes aos inseticidas. Depois de quase 25 anos desenvolvendo produtos cada vez mais mortais, mais de 500 espécies agora são resistentes a eles.

A tecnologia nuclear de irradiar os alimentos nos deixa com um lixo atômico impossível de dispor, custos enormes pra limpar e sérias ameaças à saúde humana e ambiental.

Ao forçar agricultores auto-suficientes fora de suas terras, a tecnologia promete destruir mais biodiversidade e consolidar o controle sobre o suprimento mundial de alimentos, assim a segurança alimentar ficará ainda mais diminuída.

Este mito sugere que a biotecnologia irá aumentar a produção. Dois tipos de sementes geneticamente modificadas seriam a resposta. A planta de uma dessas sementes é resistente à herbicidas; a outra produz seu próprio inseticida.

A despeito da crença que tecnologia é igual a progresso, plantas geneticamente modificadas não parecem aumentar sua produtividade. Um estudo de dois anos na Universidade de Nebraska mostrou que soja resistente a herbicida tinha produtividade menor que as variedades naturais. Em 8200 campos de experiência outra pesquisa também mostrou que sementes imunes ao Roundup eram piores em produtividade que as variedades similares.

Essa tecnologia, assim chamada, terminal- por que produz sementes estéreis depois de uma safra - não tem nem intenção de resolver a fome mundial. Nada mais é do que uma tentativa de pressionar o mercado e forçar os agricultores a comprarem do fabricante.

Mesmo sem os cenários sinistros prontamente sugeridos por esta abordagem tecnológica transgênica, como se espera resolver a fome mundial produzindo sementes incapazes de se reproduzirem?

Quanto às plantas que produzem seu próprio inseticida, seja um inseticida "natural" ou não, o U.S. Department of Agriculture mostrou que no ano 2000, de forma geral não houve redução no uso de pesticidas químicos nessas culturas.

Conclusão:

Até este ponto a conclusão é obvio.

* Resumo do livro Fatal harvest: a tragédia da agricultura industrial, editado por Andrew Kimbrell a publicado em 2002 por Island Press.